Amanda Gorman levará poesia para o Super Bowl neste domingo

      Estrela da posse do presidente Joe Biden fará aguardada participação no megaevento esportivo 
Aos 22 anos, Amanda Gorman é a poeta mais jovem a participar de uma posse presidencial nos EUA ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP 

 "Eu sou a filha dos escritores negros. Somos descendentes de freedom fighters que romperam correntes para mudar o mundo. Eles chamam por mim." São estes os versos que a poeta Amanda Gorman, de apenas 22 anos, mentalizou antes de declamar The Hill We Climb (A Colina que Escalamos) em frente ao Capitólio dos Estados Unidos, em 20 de janeiro, o que a tornou a mais jovem poeta inaugural do país. 
Uma das artistas convidadas para a posse do presidente Joe Biden, Amanda foi a improvável estrela do dia — superando performances de Jennifer Lopez e Lady Gaga. Agora, ela se prepara para uma nova empreitada igualmente improvável: trazer poesia para o intervalo do Super Bowl, a final da liga de futebol americano e o evento mais popular da televisão dos EUA, realizado neste domingo (7). 

A missão de Amanda pode ser improvável, porém não sem propósito. Para a poeta, a poesia tem o potencial de difundir ideias e fazê-las ressoar no espírito humano como nenhuma outra forma de arte ou comunicação. Por isso, é necessário levá-la a cada vez mais espaços.

Quando você está em uma marcha do Black Lives Matter e vê cartazes com os dizeres "Eles tentaram nos enterrar, mas não sabiam que éramos sementes", isto é poesia nas linhas de frente do movimento por justiça social. É esta poesia viva e engajada que transformou a poeta em heroína de uma nação, junto à sua declamação apaixonada no dia da posse. Endereçando diretamente a insurreição no Capitólio, que sacudiu os Estados Unidos apenas duas semanas antes da inauguração do novo governo, Amanda falou sobre as divisões no país, sem perder de vista a esperança por um futuro melhor: 

 "We’ve seen a force that would shatter our nation/ rather than share it/ Would destroy our country if it meant delaying democracy/ And this effort very nearly succeeded/ But while democracy can be periodically delayed/ it can never be permanently defeated." (Em tradução livre: “Nós presenciamos uma força que destruiria nossa nação/ antes de compartilhá-la/ Que destruiria nosso país se isso significasse atrasar a democracia / E esse esforço quase teve sucesso / Mas embora a democracia possa ser periodicamente adiada / ela nunca pode ser permanentemente derrotada”). 

As palavras ressoaram de tal forma com o público que, poucos minutos após sua performance, seu nome já era um dos assuntos mais comentados do Twitter e seus versos eram repetidos em mensagens sem fim. Seus livros, mesmo em pré-venda, chegaram ao topo dos mais vendidos da Amazon. E até o ex-presidente Barack Obama repetiu a catártica conclusão: "For there is always light, if only we’re brave enough to see it; If only we’re brave enough to be it" (“Pois sempre há luz, se apenas formos corajosos o suficiente para vê-la; se apenas formos corajosos o suficiente para sê-la”). 

Jornada 

A performance foi uma introdução mundial a Amanda Gorman, mas a verdade é que a ascensão meteórica da jovem data de 2014, quando ela foi agraciada com o título de Youth Poet Laureate of Los Angeles, aos 16 anos. Menos de três anos depois, quando já era uma estudante de Sociologia em Harvard, ela foi a primeira pessoa a receber uma distinção nacional similar, National Youth Poet Laureate. 

Filha de uma professora, Amanda foi criada apenas pela mãe, ao lado da irmã gêmea e um irmão mais velho, na ensolarada Califórnia. Com um impedimento na fala, que tornava difícil pronunciar a letra "R", ela encontrou na poesia um incentivo para superar o distúrbio, declamando os próprios poemas em voz alta. 

Em seus versos, um olhar crítico e, ainda assim, otimista sobre a própria pátria — talvez reflexo das experiências de uma jovem mulher negra que cresceu sob o governo do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, que se elegeu justamente com uma mensagem de esperança. "It's because being American is more than a pride we inherit/ it’s the past we step into/ and how we repair it" ("Porque ser americano é mais que um orgulho que herdamos/ é o passado que recebemos/ e como o reparamos"), reflete Amanda no poema inaugural. 

E para reparar esse passado, ela não pretende apenas se fixar às palavras. Mais de uma vez, a poeta já garantiu que pretende se candidatar à presidência dos EUA — mas apenas em 2036, quando alcançar a idade mínima. Hillary Clinton, primeira mulher a concorrer ao cargo pelo partido Democrata, resumiu o sentido de muitos americanos ao afirmar que, simplesmente, "mal pode esperar".
 

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