Sem diversidade: Shoppings de BH excluem negras e outras minorias no Dia das Mães

De Roberth Costa
Fonte: Bhaz
 

Com a proximidade do Dia das Mães, a ser comemorado no domingo (14), os shoppings de Belo Horizonte e da região metropolitana têm divulgado ao longo das últimas semanas campanhas de publicidade relacionadas ao universo das mulheres que têm filhos. Mas, você já reparou como elas são? As propagandas retratam, em sua maioria, mães e crianças brancas. Ou seja, deixam de lado a diversidade vista Brasil afora ao não representar negros e outras minorias.

BH Shopping, Pátio Savassi, Diamond, Estação BH, Minas Shopping e Boulevard estão na lista de espaços de compra da capital que ignoram as diferenças. Em Contagem, o Big Shopping segue a mesma linha: as peças exibem apenas mulheres e meninos com traços igualmente caucasianos. Apenas o Shopping Cidade, no Centro de BH, e o Itaú Power Shopping têm campanhas que contemplam públicos diversificados. Parece apenas um detalhe, mas não é: a questão perpassa preconceito racial e econômico, além da relações entre diferentes etnias e culturas.


                           Itaú Power Shopping e Shopping Cidade são os únicos a trabalhar diversidade no Dia das Mães
                           Reprodução/ItaúPowerShopping/ShoppingCidade

Para a professora e pesquisadora Laura Guimarães Corrêa, do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a ausência de negros e outras minorias nas campanhas publicitárias pode ser considerada uma exclusão simbólica. Ela explica que tal exclusão faz parte do chamado racismo estrutural, que afeta as pessoas em diferentes níveis.

“É triste perceber que mudou muito pouco a forma como as pessoas são representadas pela publicidade nas últimas décadas, principalmente os negros”, diz. “Historicamente existe uma valorização do padrão eurocêntrico de beleza, o que não justifica a ausência de pessoas com outros biotipos. A não representação dos negros, por exemplo, está associada a estereótipos negativos. E o racismo vai muito além dos xingamentos e da agressão física”, pondera.

                              Divulgação/BigShopping/MinasShopping

“Nós sabemos que o racismo está na violência policial, que atinge os negros de forma mais intensa, e também na sutilezas das representações midiáticas que são difíceis de perceber. O racismo nem sempre é explicito, mas acaba afetando a vida das pessoas”, continua Laura. “A falta de representatividade está relacionada, por exemplo, a piadas preconceituosas na escola. Essa ausência é uma forma de perpetuação do racismo na sociedade brasileira”, explica.

A pesquisadora chama atenção para as imagens das campanhas dos shoppings de BH e da região. Segundo ela, as mulheres e as crianças são mais parecidas com estrangeiros do que com os próprios brasileiros. “O que me surpreende olhando as fotos é que essas pessoas não são apenas brancas, elas são muito brancas”, diz. “Nem as publicidades de países europeus são assim. As pessoas negras são muito mais representadas nas publicidades fora do país”, conta.
Fto shp de bh

Divulgação/ShoppingEstaçãoBH/Boulevard/PátioSavassi
Laura pondera que as publicidades de homenagem, que buscam associações positivas para as marcas, devem buscar uma aproximação com a realidade para que haja respeito à diversidade. “As representações são constituintes da vida do ser humano. Uma mudança nos padrões e uma representação mais ampla são importantes para que exista respeito à diversidade”, finaliza.

Respostas

Os shoppings citados na reportagem foram procurados para se posicionar a respeito da falta de diversidade nas campanhas de Dia das Mães. Pátio Savassi, Minas Shopping, Diamond e BH Shopping não responderam à demanda. Já a assessoria do Shopping Estação BH explicou por meio de nota que “a campanha de mães foi desenvolvida com o objetivo de representar o cuidado, o amor e a cumplicidade que fazem da relação entre mães e filhos algo agregador e especial”. “O mall reitera que o respeito à diversidade é um compromisso que pauta todos os âmbitos de sua atuação e já foi apresentado em outras campanhas online”, completa.

O Boulevard, por sua vez, afirma ter optado por “contar histórias reais com forte vínculo entre mãe e filho” e que não utiliza modelos nas campanhas. “Em 2017, os personagens dessa história de amor foram a Cris Guerra (publicitária mineira) e seu filho Francisco”, diz um trecho da nota. “Eles foram escolhidos justamente pela sua relação com BH e pela trajetória de superação que envolve a maternidade da Cris”, continua o comunicado enviado ao Bhaz.  “O shopping ressalta ainda que não faz qualquer distinção de cor, idade, classe social, gênero ou qualquer outra forma de segregação em suas campanhas e entre seus clientes e público”, finaliza.

O Big Shopping informa que recentemente produziu um evento de moda relacionado à beleza negra e que desenvolve campanhas que buscam retratar a diversidade com portadores de síndrome de down. A exposição fotográfica “47 cromossomos e 1000 possibilidades”, de Cecilia Schimer, foi apresentada ao público que frequentou o shopping até o dia 31 de março.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

IDG anuncia nova diretora do Museu das Favelas.