Contador de histórias e com DNA de escritor, Ricardo Viveiros comemora meio século de carreira na comunicação


O jornalista Ricardo Viveiros completa, em 2015, meio século de carreira no mundo da comunicação com muitas histórias para contar. Histórias que ele mesmo destaca gostar de contar, conforme deixou claro ao receber à reportagem do Portal Comunique-se na sede da agência criada há quase três décadas e que leva o seu nome: Ricardo Viveiros & Associados. “Falo demais”, disse, mais de uma vez, durante a conversa que teve quase uma hora de duração. E boas histórias não faltaram. Ele relatou que começou a atuar na mídia como uma “brincadeira de garoto”, explicou o modo inusitado com o qual passou a atuar do “outro lado do balcão”, sendo assessor de imprensa, e fez questão de evidenciar que foge de rótulos como empresário, gestor ou chefe. “Sou jornalista”, enfatiza.

De família tradicional, filho de um industrial farmacêutico e de uma atriz, Viveiros valoriza profundamente a educação que recebeu em sua juventude pelos padres jesuítas do Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro. Comunicador nato, o executivo declara que nasceu vocacionado e que carrega “DNA de escritor”. O início de sua caminhada como jornalista se deu na revista Nova Geração, para a qual desenvolveu projetos como colunista, repórter e entrevistador. “Era apenas uma experiência, embora eu já tivesse carteira assinada”.

Profissional versátil, o próprio jornalista define sua carreira como atípica. “Diferentemente de outros colegas que trabalharam durante muitos anos na mesma área, tive oportunidade de passar por todas as mídias. Trabalhei em rádio, TV, jornal, revista e agência de notícias”. Com estas experiências, Viveiros atuou ao lado de grandes nomes, referências da comunicação, e se envolveu na luta contra a ditadura militar no Brasil, período em que foi preso e torturado. Assim, o profissional foi forçado a fugir para o exterior, onde atuou como correspondente internacional, palestrante e professor.
                             Jornalista e escritor Ricardo Viveiros completa 50 anos de carreira
                                         (Imagem: Tácila Rubbo/ Portal Comunique-se)

Após o exílio, Viveiros iniciou projeto diferente no Diário do Comércio. Ele foi encarregado de entrevistar os 300 diretores das maiores empresas nacionais. Com os textos da coluna ‘Palavra de Empresário’ publicados, o jornalista era procurado frequentemente pelos entrevistados, que o convidavam para desenvolver trabalhos como assessor de imprensa. Apesar de negar os convites, a ideia despertou a vontade de seguir carreira na área. “Comecei a desenvolver uma tese de doutorado sobre essas relações das forças produtivas com a mídia. Concluí e a submeti a um ilustre professor da época, que me disse que isso não funcionaria como tese de doutorado, mas sim como estudo de viabilidade técnica e econômica para montar uma assessoria de imprensa. E eu fiquei com aquilo na cabeça”.

Com a “frustrada” tese de doutorado, Viveiros seguiu na imprensa e em determinado momento participou de um processo de seleção para ser o diretor geral de jornalismo de uma grande empresa de televisão. “Fui o escolhido”, conta, sem revelar o nome do canal. “Acontece que o dono da emissora era supersticioso. Ele foi tratar uma doença no exterior e na volta foi entrevistado por dois bons colegas que fizeram com ele uma bela matéria. Ele entendeu aquilo como sinal divino e derrubou o processo de seleção. Fiquei desempregado e resolvi seguir o conselho do professor de montar a assessoria de imprensa”.

Assim, surgiram as primeiras atividades da RV&A, sigla pela qual a agência também é conhecida. “Olhando para os 50 anos que se passaram, vejo que trabalhei em todos os meios e em grandes veículos. Visitei 106 países do mundo fazendo matérias, dei aulas durante 25 anos, escrevi 33 livros e tenho uma empresa com esse perfil”.

                                 Novas instalações da RV&A, em Pinheiros, São Paulo
                                  (Imagem: Tácila Rubbo/Portal Comunique-se)
Com 28 anos de existência e clientes de diversas áreas em seu portfólio, a agência chega a 2015 com diversos prêmios conquistados ao longo das quase últimas três décadas, como o “Selo Agência de Confiança” do ano (H2R Pesquisas Avançadas). Além disso, o fundador da empresa faz questão de ressaltar: a Ricardo Viveiros & Associados está entre as 20 maiores companhias do setor do país, sendo a única com 100% de capital brasileiro e a não possuir contas governamentais.

E justamente no ano em que seu fundador completa meio século na comunicação, a RV&A ganhou novas instalações. A estrutura da empresa deixou, no primeiro trimestre de 2015, o bairro paulistano da Vila Madalena para funcionar em Pinheiros, também na cidade de São Paulo, onde possui amplo espaço para 40 colaboradores, com computadores de última geração e identidade visual clean. A sala do CEO, no último andar, remete à ideia do executivo de trabalho em equipe, com paredes de vidro, abertas aos olhos de seus funcionários e receptiva a novas ideias, conforme ressalta o próprio Viveiros.

Dentro do escritório, os funcionários são estimulados pela meritocracia e investimento para o desenvolvimento de quem está na casa. Para isso, existe o programa “Banco de Talentos”, pelo qual os colaboradores ganham financiamento de cursos universitários. Além da graduação, oito empregados são beneficiados, atualmente, com o projeto cursando pós-graduação. “Investimos muito em tecnologia de ponta e capacitação dos recursos humanos. Acreditamos muito no desenvolvimento dos profissionais que fazem a diferença e têm os valores do jornalismo”, declara Viveiros.

Os ideais da empresa refletem a experiência adquirida por seu criador durante os 50 anos dedicados à comunicação. “Trabalhamos com assessoria de imprensa, mas fazemos jornalismo institucional”, afirma. Todas as operações da agência são realizadas com base na ética jornalística, com compromisso de qualidade, de produtividade, de velocidade e segurança de dados, faz questão de destacar o fundador e presidente da Ricardo Viveiros & Associados.

Dos primeiros passos aos grandes veículos
Cresci num ambiente de muita educação, cultura e informação. Desde pequeno, estudei com os padres jesuítas do Colégio Santo Inácio e era bom aluno de redação, história, geografia e filosofia. Com o passar do tempo, fui entendendo que meu negócio era escrever. Eu era um menino muito curioso, sempre perguntava por que, como, onde...

A revista Nova Geração era editada pelos padres jesuítas e tirava 35 mil exemplares. Lá, eu comecei escrevendo colunas, depois fazendo reportagens e entrevistas. Mas aquilo ainda era visto como uma brincadeira, um hobby. Embora eu tivesse salário e carteira assinada.
Meu pai, um homem inteligente, logo percebeu que eu não ia seguir a carreira dele e me encaminhou para trabalhar na Tribuna da Imprensa, com o Carlos Lacerda. Fiz uma carreira atípica, não por mérito meu, mas por destino. Isso é muito raro. Se você pegar grandes profissionais, vai ver que sempre trabalharam com um só foco. Tive a felicidade e a oportunidade de ter passado por todos os meios e em vários grandes veículos.

Convivi com grandes jornalistas, como Carlos Drummond de Andrade, Alberto Dines, Samuel Wainner, Oldemário Touguinhó, Carlinhos de Oliveira, Alceu de Amoroso Lima e Sérgio Porto. Foram anos de grande aprendizado. Também trabalhei no início da televisão, em emissoras que já foram extintas, casos de Continental, Rio e Excelsior.

Exilado
                                          Empresa de assessoria está há 28 anos no mercado
                                          (Imagem: Tácila Rubbo/Portal Comunique-se)
Em meados dos anos 1960, me envolvi com a luta contra a ditadura militar no Brasil. Acabei indo para o exílio porque era necessário. Amigos morrendo, pessoas sendo assassinadas, sumindo. Eu já tinha sido preso, então aproveitei o momento para ir para fora. E no exterior, sobrevivi fazendo trabalhando para agências de notícias. Além disso, ministrava palestras e lecionava. Como eu tinha boa base de educação dada pelos padres jesuítas e boa base de cultura dada pela família, pude sobreviver razoavelmente bem. Nunca pensei em desistir da carreira em comunicação. Nasci vocacionado, com esse DNA de escritor. No começo, eu não sabia exatamente o que era, mas depois foi se encaminhando para o jornalismo.

Do outro lado do balcão
Assessor de imprensa é como cirurgião plástico. Se você notar que o serviço foi feito, é porque foi mal feito. Se há uma regra para dar certo como assessor de imprensa é ser insatisfeito o tempo todo. O elogio não contribui, a crítica constrói. O fato de eu ter vindo de 22 anos na mídia, quando fundei a empresa, me ajudou muito. Naquele tempo não tinha internet e celular. O que tinha era máquina de escrever, sem ser elétrica e sem tecla corretiva! Eu lembrava do tempo que estava na redação com um monte de releases iguais na minha mesa. Metade, ou mais, ia para o lixo.

No começo da RV&A, eu tinha quatro clientes. O que eu fiz? Comprei papeis marrom, verde, amarelo e azul. Uma cor para cada. Montava o título do cliente em duas linhas e datilografava em duas colunas. Fiz carimbos com os logos de cada veículo, escritos ‘Exclusivo para você’. Comecei inovando aí. O colega da redação recebia aquele monte de releases todos iguais e tinha aquele que eu havia enviado, que se destacava. Como o texto era bom, tinha apuração de informação, o sujeito se entusiasmava. Era um negócio diferente na formatação e correto no conteúdo.

Certa feita, uma grande empresa de turismo que fazia cruzeiros marítimos nos contratou para divulgar uma viagem para o exterior que sairia em 12 de outubro, dia da descoberta da América. Sabe o que eu fiz? Aluguei uma Kombi velha, comprei dois barris e enchi d’água, comprei garrafas vazias e papeis tipo papiro. Passei noites queimando as bordas, escrevi os releases, enrolei, amarrei com fita e coloquei dentro das garrafas. Contratei quatro jovens da escola de teatro para se vestirem de marinheiros e o motorista da perua os levava em cada redação para entregarem as garrafas molhadas. Eles entravam apitando e a colocavam a garrafa na mesa do editor. Parava a redação! O cara tinha que romper o lacre para alcançar o release. Você acha que ele não lia? Claro que lia!

O escritor
                                 Comunicador nato, Viveiros diz possuir "DNA de escritor"
                                    (Imagem: Tácila Rubbo/Portal Comunique-se)
Meu trabalho como escritor envolve poesia, história, biografias e crítica de arte. São mais de 30 livros publicados em várias áreas. Comecei a escrever para criança depois de velho, apesar de ser considerado, desde sempre, um bom contador de histórias. Mas nunca me aventurei a escrever para criança, pela grande responsabilidade. Quando escrevo para adultos, é um público que tem discernimento e pode se livrar de influência equivocada que eu possa exercer. A criança, não! Ela é aberta e ainda não está totalmente formada. Meu medo girava em torno de não saber o que esse texto iria gerar na cabeça infantil.

Mas eu tive um episódio complicado, perdi um filho de 26 anos e uma netinha de sete meses, mortos num acidente de carro [há 19 anos]. Ele era ilustrador de livros infantis, desenhista, cartunista bem sucedido. Quando ele morreu, como desabafo da dor imensa da perda dele e da minha netinha que é uma coisa contra a lógica, fiz a única coisa que eu sabia fazer: escrevi um texto. Uma história que, se você ler, não tem nada a ver com morte. Quem não conhece o fato que o gerou, acha o texto lindo, poético e romântico. Depois de anos encontrei o texto, reli e mostrei para um amigo pintor, o Rubens Matuck. Ele ilustrou, arrumou uma editora, convidou o Ziraldo para fazer o prefácio. O livro é um sucesso e está na quarta edição. Agora, estou trabalhando no “A anta não é burra, é anta”, a história de uma anta jovem que ouve um pescador chamar o outro de anta, como se fosse burro. Isso a deixa injuriada. O livro apresenta fatores curiosos sobre a espécie. O lançamento será no próximo ano.

Planos para o futuro
Sou cobrado para escrever uma autobiografia. Não tem uma semana que alguém não fale “você já está com 65 anos, escreve as suas memórias”, ficam iguais urubus pousados na minha sorte. Porque eu já vivi muitas coisas, entrevistei muitas pessoas famosas, no Brasil e no exterior. Fui processado por alguns, respeitado por outros... Fora isso, viajei muito, tenho muitas histórias para contar!

Quero continuar tocando a RV&A por mais um tempo, mas estou começando a desenvolver um processo sucessório. E não é para herdeiros! Os meus herdeiros são os meus funcionários. Pretendo, daqui uns anos, passar as cotas para meus funcionários. Eles não vão comprar, eles vão ganhar a empresa. Vou distribuir proporcionalmente entre os mais antigos, os mais fiéis e os que estão aqui há muitos anos. Aí, vou ficar só escrevendo livros. É um projeto para o futuro que a gente vem trabalhando, uma forma de reconhecer os colegas que lutaram comigo e que ajudaram a construir a RV&A.
Fonte: Comunique-se
Escrito por Tácila Rubbo e Anderson Scardoelli

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